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Quando pensamos em perdão é fácil associarmos
essa palavra a sentimentos pessoais e lembrar de fatos e pessoas que nos
trouxeram algum sofrimento. Porém, para muitos, esses mesmos sentimentos são diretamente
vinculados ao desejo de vingança e reparação, o que não é considerado
absolutamente errado. Muitas vezes a reparação seria justa, ou, até a vingança,
justificável. Na antiguidade as leis tinham um forte caráter de reparação e
vingança. O Código de Hamurabi, escrito há 1.700 anos antes de Cristo
era um nítido exemplo desse tipo compensação ou vingança. Em um de seus artigos
havia a seguinte inscrição:
"Se um construtor edificou uma casa para um Awilum, mas
não reforçou seu trabalho, e a casa que construiu caiu e causou a morte do dono
da casa, esse construtor será morto".[1]
Por conta de seu rigor em atribuir reparações esse código
basicamente originou um dos princípios do direito antigo: O principio de
talião[2],
do qual adveio a expressão: “Olho por olho, dente por dente.”
O povo hebreu não ficou fora desse contexto. O próprio Moisés, ao
receber as leis e fixá-las a população, estabeleceu critérios de reciprocidade
de castigos e reparações. Veja o que diz a Palavra de Deus:
“Se alguém furtar boi ou ovelha, e o degolar ou vender, por
um boi pagará cinco bois, e pela ovelha quatro ovelhas.” (Êxodo, capitulo
22, versículo 1).
“Mas se houver morte, então darás vida por vida, olho
por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por
queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe.” (Êxodo, capitulo 21,
versículos 23 a 25).
“Quem ferir alguém, de modo que este morra, certamente
será morto.” (Êxodo, capítulo 21, versículo 12).
Foi por essa razão que o Rei Davi, ao ser confrontado pelo profeta
Natã, disse que o pecador deveria morrer, além de restituir quadruplicado pelo
seu pecado (II Samuel, cap. 12, vers. 5 e 6). Assim como Zaqueu, o cobrador de
impostos, que ao ser salvo por Jesus prometeu restituir quatro vezes mais àqueles
a quem houvera defraudado (Ev.Lucas, cap. 19, vers. 8).
Mas houve um personagem bíblico que estabeleceu um padrão de
compensação e vingança absurdamente desproporcional e injusto. Seu nome era
Lameque, tataraneto de Caim.
Lameque, além de polígamo[3],
tinha um caráter injusto e extremamente vingativo, pois ao declarar
publicamente haver matado um jovem e um homem, ainda estabeleceu um grau de
retaliação para quem quisesse vingar-se dele. Observe:
“E disse Lameque a suas mulheres Ada e Zilá: Ouvi a minha
voz; vós, mulheres de Lameque, escutai as minhas palavras; porque eu matei um
homem por me ferir, e um jovem por me pisar. Porque sete vezes Caim será
castigado; mas Lameque setenta vezes sete.” (Gênesis, capítulo 4,
versículos 23 e 24).
Vemos, pelo exemplo de Lameque, os resultados que hoje assolam a
humanidade: Guerras, afrontas, discórdias e o próprio sentimento de vingança
como instrumento de reparação e satisfação pessoal. Mas JESUS CRISTO nos deu uma lição valiosíssima ao responder a
Pedro por ocasião de quantas vezes devemos ser tolerantes e prontos a perdoar
nossos semelhantes.
“Então Pedro, aproximando-se dele, disse: ‘Senhor, até
quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?’ Jesus lhe disse: ‘Não te digo que até sete, mas
até setenta vezes sete.” (Ev. Mateus, cap.18, vers.21
e 22).
Não foi por mera coincidência ou acaso que Pedro questionou
Jesus acerca da tolerância e do perdão, pois nos dias de Cristo ainda
prevaleciam as ideias de talião, “olho por olho, dente por dente”(Ev.
Mateus, cap.5, vers.38 a 44). Por essa razão Pedro desejava saber qual o
critério que Jesus estabeleceria a fim de tratarmos nossos semelhantes ao nos ofenderem.
Desse modo, assim como Lameque estabeleceu um critério absurdamente desproporcional
para a vingança; JESUS fixou esse mesmo padrão para a tolerância e o perdão,
dando-nos uma preciosa lição de como Deus trata essa questão.
“Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei
que quis fazer contas com os seus servos. E, começando a fazer as contas,
foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos. E, não tendo ele com que
pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos,
com tudo quanto tinha, para que a dívida lhe fosse paga. Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava,
dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Então o senhor
daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida.
Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem
dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves.
Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê
generoso para comigo, e tudo te pagarei. Ele, porém, não quis, antes encerrou-lhe
na prisão, até que pagasse a dívida. Vendo, pois, os seus conservos o
que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor tudo o que
se passou. Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe:
Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não
devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia
de ti?
E, indignado, o seu senhor o entregou aos carcereiros, até que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.” (Ev.Mateus, cap. 18, vers. 23 a 35).[4]
E, indignado, o seu senhor o entregou aos carcereiros, até que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.” (Ev.Mateus, cap. 18, vers. 23 a 35).[4]
Portando, se você almeja que a misericórdia de Deus alcance
sua vida, saiba agir conforme o critério de Jesus para a tolerância e o perdão.
E Você verá quão bom isso será para você e todos os seus relacionamentos.
Lembre-se:
“O que segue a justiça e a beneficência achará a vida, a
justiça e a honra.” (Provérbios,
cap.21, vers.21).
Que Deus os abençoe!
[1]
Passagem do Código de Hamurabi (artigo 25, § 227) – Awilum, significa
cidadão livre. Fonte: Encyclopaedia Britannica.
[2]
O Principio de Talião ou Lei de Talião, também chamado Lex
Talionis (talis = igual, idêntico), chamada de lei da
retaliação, a qual consistia na reciprocidade entre delito e pena. Fonte:
Grandes Civilizações do Passado, Ed. Fólio.
[3] O
registro de Lameque, apresentado em Gênesis, cap. 4, vers.19 descreve o
primeiro caso de poligamia nas Escrituras Sagradas.
[4] Todas as
referências bíblicas citadas nesse texto foram extraídas da Bíblia Sagrada,
versão ALMEIDA Corrigida e Revisada, SBB.
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