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sábado, 13 de abril de 2013

490 Vezes


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Quando pensamos em perdão é fácil associarmos essa palavra a sentimentos pessoais e lembrar de fatos e pessoas que nos trouxeram algum sofrimento. Porém, para muitos, esses mesmos sentimentos são diretamente vinculados ao desejo de vingança e reparação, o que não é considerado absolutamente errado. Muitas vezes a reparação seria justa, ou, até a vingança, justificável. Na antiguidade as leis tinham um forte caráter de reparação e vingança. O Código de Hamurabi, escrito há 1.700 anos antes de Cristo era um nítido exemplo desse tipo compensação ou vingança. Em um de seus artigos havia a seguinte inscrição:

"Se um construtor edificou uma casa para um Awilum, mas não reforçou seu trabalho, e a casa que construiu caiu e causou a morte do dono da casa, esse construtor será morto".[1]

Por conta de seu rigor em atribuir reparações esse código basicamente originou um dos princípios do direito antigo: O principio de talião[2], do qual adveio a expressão: “Olho por olho, dente por dente.

O povo hebreu não ficou fora desse contexto. O próprio Moisés, ao receber as leis e fixá-las a população, estabeleceu critérios de reciprocidade de castigos e reparações. Veja o que diz a Palavra de Deus:

Se alguém furtar boi ou ovelha, e o degolar ou vender, por um boi pagará cinco bois, e pela ovelha quatro ovelhas.” (Êxodo, capitulo 22, versículo 1).

Mas se houver morte, então darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe.” (Êxodo, capitulo 21, versículos 23 a 25).

Quem ferir alguém, de modo que este morra, certamente será morto.” (Êxodo, capítulo 21, versículo 12).

Foi por essa razão que o Rei Davi, ao ser confrontado pelo profeta Natã, disse que o pecador deveria morrer, além de restituir quadruplicado pelo seu pecado (II Samuel, cap. 12, vers. 5 e 6). Assim como Zaqueu, o cobrador de impostos, que ao ser salvo por Jesus prometeu restituir quatro vezes mais àqueles a quem houvera defraudado (Ev.Lucas, cap. 19, vers. 8).

Mas houve um personagem bíblico que estabeleceu um padrão de compensação e vingança absurdamente desproporcional e injusto. Seu nome era Lameque, tataraneto de Caim.

Lameque, além de polígamo[3], tinha um caráter injusto e extremamente vingativo, pois ao declarar publicamente haver matado um jovem e um homem, ainda estabeleceu um grau de retaliação para quem quisesse vingar-se dele. Observe:

E disse Lameque a suas mulheres Ada e Zilá: Ouvi a minha voz; vós, mulheres de Lameque, escutai as minhas palavras; porque eu matei um homem por me ferir, e um jovem por me pisar. Porque sete vezes Caim será castigado; mas Lameque setenta vezes sete.” (Gênesis, capítulo 4, versículos 23 e 24).

Vemos, pelo exemplo de Lameque, os resultados que hoje assolam a humanidade: Guerras, afrontas, discórdias e o próprio sentimento de vingança como instrumento de reparação e satisfação pessoal. Mas JESUS CRISTO nos deu uma lição valiosíssima ao responder a Pedro por ocasião de quantas vezes devemos ser tolerantes e prontos a perdoar nossos semelhantes.

Então Pedro, aproximando-se dele, disse: ‘Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?’ Jesus lhe disse: ‘Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete.” (Ev. Mateus, cap.18, vers.21 e 22).

Não foi por mera coincidência ou acaso que Pedro questionou Jesus acerca da tolerância e do perdão, pois nos dias de Cristo ainda prevaleciam as ideias de talião, “olho por olho, dente por dente”(Ev. Mateus, cap.5, vers.38 a 44). Por essa razão Pedro desejava saber qual o critério que Jesus estabeleceria a fim de tratarmos nossos semelhantes ao nos ofenderem. Desse modo, assim como Lameque estabeleceu um critério absurdamente desproporcional para a vingança; JESUS fixou esse mesmo padrão para a tolerância e o perdão, dando-nos uma preciosa lição de como Deus trata essa questão.

Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos. E, começando a fazer as contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos. E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida lhe fosse paga. Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves. Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Ele, porém, não quis, antes encerrou-lhe na prisão, até que pagasse a dívida. Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passou. Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?
E, indignado, o seu senhor o entregou aos carcereiros, até que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.
 (Ev.Mateus, cap. 18, vers. 23 a 35).[4]

Portando, se você almeja que a misericórdia de Deus alcance sua vida, saiba agir conforme o critério de Jesus para a tolerância e o perdão. E Você verá quão bom isso será para você e todos os seus relacionamentos.

Lembre-se:

O que segue a justiça e a beneficência achará a vida, a justiça e a honra.” (Provérbios, cap.21, vers.21).

Que Deus os abençoe!





[1] Passagem do Código de Hamurabi (artigo 25, § 227) – Awilum, significa cidadão livre. Fonte: Encyclopaedia Britannica.
[2] O Principio de Talião ou Lei de Talião, também chamado Lex Talionis (talis = igual, idêntico), chamada de lei da retaliação, a qual consistia na reciprocidade entre delito e pena. Fonte: Grandes Civilizações do Passado, Ed. Fólio.
[3] O registro de Lameque, apresentado em Gênesis, cap. 4, vers.19 descreve o primeiro caso de poligamia nas Escrituras Sagradas.
[4] Todas as referências bíblicas citadas nesse texto foram extraídas da Bíblia Sagrada, versão ALMEIDA Corrigida e Revisada, SBB.

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